Ação entre amigos

É preciso que alguém explique, se é que isso seja possível. Mas vou adiantando que é muito difícil convencer. Fato é que entrou em cena uma pirraça do prefeito Custódio Mattos em relação a 12 procuradores da administração, que pleiteiam isonomia em relação a dezenas de colegas, do mesmo serviço e da mesma categoria funcional, que obtiveram vantagem de 20% de nível universitário sobre os vencimentos. Uma questão para ser resolvida pela própria Procuradoria, considerando-se que os interessados já impetraram mandado de segurança, e as razões de ambas as partes são suficientemente conhecidas.

Um advogado da cidade, nem precisa ser um dos experientes nas relações com o Executivo, consegue, em lauda e meia, deixar tudo muito claro. Espanta a desconsideração que esse prefeito devota não apenas ao seu serviço de Negócios Jurídicos, mas a todos os advogados, quando decide contratar para a querela com os procuradores um iniciante no campo profissional, mas que é seu amigo de outros tempos.
De fato, o sr. Antônio Eduardo de Noronha Amábile, cujo escritório de advocacia começou a funcionar há pouco mais de um mês, foi colega de Custódio Mattos no primeiro escalão do governo Aécio Neves. O atual prefeito era secretário de Desenvolvimento Social, e Amábile
subsecretário de Trabalho, Emprego e Renda. Está lá a assinatura dos dois num contrato de produção de livreto sobre Direitos do Consumidor - Competências Básicas para o Trabalho.

Disse no começo deste artigo e repito agora: o prefeito não tem como explicar. Primeiro, a contratação de um estranho à cidade, à prefeitura e ao Foro local. Depois, pagar R$150 mil por um trabalho que custaria aqui vinte vezes menos! A OAB também podia nos informar se o prefeito está praticando honorários compatíveis.

A Câmara, em iniciativa prometida pelo vereador Isauro Calais, vai interpelá-lo quanto à necessidade, oportunidade e moralidade dessa contratação, que mais parece uma ação entre amigos. Tamanha insolência nisso, que não apenas um vereador, mas toda a Câmara devia se levantar e manifestar seu espanto.

Estamos diante de mais um episódio (entre tantos, meu Deus!) em que o prefeito Custódio é chamado a se explicar. E mostrar à população qual o conceito que ele e sua administração fazem do dinheiro dos impostos que pagamos. A saúde jogada no caos, nas ruas tropeça-se no lixo acumulado, as obras viárias, há meses prometidas, não dão o sinal da graça. O dinheiro que falta para o essencial é o mesmo que sobra para presentear amigos.

Pobre Juiz de Fora!

O. P.