PODER, CONSERVADORISMO E DESENVOLVIMENTO ECONOMICO

Por que a história da existência humana tem o desenvolvimento econômico como sua principal força motriz? Por que essa busca incansável, sangrenta e, portanto, paradoxalmente desumana, por melhores condições de vida material? A resposta pode ser encontrada na essência e na alma do humano: a luta pelo poder, que traz em seu âmago a vaidade, sentimento tão vulgar e tão freneticamente praticado por todas as pessoas desse planeta.

Há três formas de poder: o econômico, formado pelo acumulo de riquezas; o político, representado por grupos ou indivíduos que tomam o Estado, encastelando-se, de forma democrática ou não, nas instituições que supostamente deveriam ser públicas. E por fim, o poder intelectual , representado por aqueles que, por dom divino (artistas em geral), ou por formação acadêmica, exercem enorme poder sobre os demais grupos sociais.

Não vou divagar sobre teses de sociologia. Quero me referir, neste artigo, às minhas próprias observações, acumuladas ao longo de uma vida como executivo, empresário e homem público. Minha maior curiosidade na vida é tentar entender os motivos que fazem as nações acumularem muitas riquezas, e outras, tanta pobreza. Quais os motivos que levam um país ser mais rico que o outro? Por quais motivos uma sociedade é mais violenta que a outra? O que é a felicidade de uma nação ?

Tenho comigo, algumas certezas, absolutas e inquestionáveis: a liberdade, exercida nas democracias ocidentais, ou seja, a participação da sociedade e alternância no poder, através do voto popular é o principal motivo da riqueza material das principais nações do mundo. Estou me referindo ao poder do cidadão exercer seus direitos, suas crenças religiosas, políticas, intelectuais, artísticas e, principalmente, exercer a liberdade de expressão.

É muito fácil a comprovação dessa certeza, qual seja, a liberdade como fator de acúmulo de riquezas, que geram diferenças abissais entre as nações. Basta olharmos para os países das Américas do Sul e Central, que nunca conseguiram manter, ao longo de suas histórias, as liberdades, as regras da democracia, o respeito ao estado de direito, sem que a ordem institucional não fosse interrompida por um golpe de estado, realizado, em geral por militares ou políticos demagogos, que se transformavam em ditadores. Getúlio Vargas, Peron, Fidel Castro e Stroessner são os exemplos mais eloquentes do atraso político de nosso continente, transformando seus países em símbolos de verdadeiros desastres econômicos e sociais.

Se vamos um pouco mais longe, basta observar também os países que se aventuraram ou foram obrigados a se transformar em sangrentas ditaduras marxistas. Refiro-me aos países do Leste europeu liderados pela ex-União Soviética ( Polônia, Bulgária, Romênia, Alemanha Oriental, Iugoslávia e Checoslováquia etc.) que, vivendo em regime de partido único, de economia centralizada e terras coletivizadas, tornaram-se a grande referência de desastre econômico e social da história. Foram sociedades que suportaram 50 anos de terror político, baseado na perseguição, corrupção e absoluta falta de liberdade de expressão ou contestação do regime. Resultado: acabaram-se todos, sendo a queda "muro de Berlim", a referência simbólica e o marco que derrubava para sempre a utopia de uma sociedade igualitária, baseada na mais absoluta falta de liberdade.

Onde não existe, ou não existiram liberdades democráticas, o resultado é um só: infelicidade, miséria e corrupção.

Longe de querer dizer , ou até mesmo supor que nas democracias ocidentais não exista corrupção e injustiças. Claro que existe, e muita . A diferença é que, nelas, existem leis que são respeitadas , o cidadão pode se manifestar, e o principal, se você for pego roubando ou corrompendo, vai para a cadeia !

Essa é a grande diferença entre o regime democrático e as ditaduras , de esquerda ou de direita, que só serviram para enriquecer grupos sociais politicamente conservadores e corruptos e, consequentemente , aprofundando, brutalmente, as diferenças de renda entre os cidadãos. Um verdadeiro abismo social.

Para nós brasileiros, os períodos de ditadura somam quase 50 anos; quase meio século de corrupção e atraso! Cinquenta anos de formação de uma oligarquia retrógrada nos princípios da economia capitalista, e atrasada pelo exercício do poder, cuja principal característica é a hereditariedade política e econômica praticada por essa elite deformada. Resultado disso tudo é o Brasil afundado na corrupção e em mazelas inaceitáveis, que tanto nos envergonham.

Enquanto o mundo capitalista avança para uma terceira revolução industrial, ou melhor, a revolução da informática e da alta tecnologia, o Brasil sequer conseguiu realizar sua reforma agrária ! Tudo por conta, repito, da deformação de uma oligarquia que insiste em viver com os princípios e práticas politicas da monarquia portuguesa , onde o favorecimento, a proteção dos amigos da corte e a corrupção eram, há duzentos anos, os instrumentos e a prática para a acumulação de capital e de poder politico . Péssima herança, causadora de tantos problemas (e cartórios) , que só existem no Brasil.

Mas a pior covardia já praticada por essa elite, contra o povo brasileiro, foi a privatização das empresas estatais , patrocinada pelos tucanos, sob a liderança de Fernando Henrique Cardoso. Não que eu seja contra a privatização. Ao contrário, sou daqueles que acreditam no Estado forte como instrumento de distribuição de renda e de politicas que protejam os menos favorecidos. Ao mesmo tempo, sou contra o Estado produtor de bens e serviços. Nem por isso, posso deixar de dizer que foi cometido um crime de "lesa pátria" praticado por Fernando Henrique e sua turma, pelo simples fato de não terem realizado nehuma privatização. O que os tucanos fizeram foi uma "transferência de monopólio" do Estado, para a iniciativa privada. E, pior, de graça.

O mais inacreditável, para provar a doação/transferência de monopólio, e não privatização, é que os investidores nacionais e estrangeiros, compraram (ganharam) as empresas com financiamento do próprio governo (papeis podres e financiamentos do BNDES) ! E o governo Fernando Henrique, ao invés de quitar a dívida interna com os recursos da venda ( doação) das estatais, preferiu, e conseguiu , deixar uma dívida pública interna cindo vezes maior que recebeu em sua posse! E tudo ficou por isso mesmo. Os grupos que compraram ficaram muito mais ricos e poderosos, o Estado mais endividado, sem o patrimônio e o povo ainda mais pobre.

Todos esses exemplos servem para ilustrar a prática conservadora da elite brasileira. Meia dúzia de grupos compraram (ganharam) as estatais, que deficientes, pela roubalheira , eram riquíssimas por sua atuação monopolistica. Em resumo, mais concentração de riquezas e poder nas mãos de poucos brasileiros.

Todas essas heranças poderiam ter ficado como parte de nossa história, mas, infelizmente, fazem-se presentes no País e nas instituições, como parte de uma cultura que parece imutável. É a força da minoria conservadora, mas poderosa, impondo-se sobre uma imensa minoria desprovida de poder.

Prova da estagnação cultural patrocinada por essa elite conservadora, é representada, no âmbito político, pelo que denomino "filhotismo", isto é, as lideranças brasileiras, no campo da representação, encontram-se, hoje, em sua grande maioria, não nas bases da sociedade, mas no seio das famílias que possuem poder político. Em outras palavras, a vocação política foi substituída pelo parentesco político.

O que observamos, hoje, são deputados, governadores, prefeitos e vereadores com seus pais, mães, mulheres , filhos ou cunhados igualmente, deputados, governadores, prefeitos e vereadores ... E , pior, determinando, esse novo estilo canalha de fazer politica uma ação entre amigos, com um rodízio eleitoral já praticado sem cerimonia entre eles.

Basta olhar as duas últimas eleições em Juiz de Fora, para constatarmos que a oligarquia autóctone, pratica, simplesmente, uma ação política entre famílias. Daí, podermos afirmar que uma nova geração de herdeiros já está se preparando para assumir o poder na cidade. Diga-se de passagem, é importante dizes, revezam-se nos cargos, pelo voto e com o respaldo da população.

Dessa prática despótica nasce, e se entranha nas instituições e na sociedade, o conservadorismo político e econômico que impede o Brasil de se tornar uma nação livre, verdadeiramente democrática, e com um sistema economico , cujo maior o valor é a liberdade de criação de riquezas, e não o privilégio hereditário , como se observa por aqui. Conheço poucos empresários e capitalistas no Brasil, mas conheço centenas de herdeiros. Alguns com talento. A maioria só herdeira.

Resultado: não se criam riquezas, mas se acumula capital por gente que só consegue manter sua posição na sociedade, se seu negócio participar de setores oligopolizados. O maior exemplo aqui, é o sistema cartorial bancário existente no Brasil. Cinco bancos, cinco famílias, controlam a base monetária do Brasil! Isso - posso afirmar - não existe em qualquer país capitalista avançado. Só no Brasil. E assim são os principais setores da economia. Todos oligopolizados ou até mesmo monopolizados.


Essa concentração de poder nas mãos de uma elite sem compromissos com o país, tem impedido o nosso desenvolvimento econômico, visto que a liberdade plena, política e econômica é o principal valor, e fator preponderante para a criação de riquezas em uma nação verdadeiramente democrática. Em nosso País, infelizmente, não encontramos essa liberdade, pois aqui, o conservadorismo político, empresarial , intelectual e até mesmo de imprensa , impede que a democracia econômica avance.

O pior de toda essa triste realidade, é que as elites conservadoras lutam ,permanentemente, para não permitir que aconteçam as mudanças estruturais, de forma que o Estado brasileiro permaneça servindo a empresários e empresas que corrompem para continuar atuando em mercados monopolísticos.

O maior exemplo no Brasil contemporâneo dessa oligarquia decadente, porém poderosa, vem do Maranhão, da família Sarney: domina aquele Estado, e o "administra" de pai para filho, há mais de 50 anos. Resultado: o Maranhão tem o menor IDH do Brasil. Ou seja, uma só família é dona do Estado, dominando as instituições como se fosse um bem particular. Meu Deus, quanto atraso!

Em Juiz de Fora não é muito diferente. Aqui, a única pequena diferença é que, ao invés de uma só família dominando, temos duas que se revezam com um bandido conhecido nacionalmente. Em Minas Gerais, nada também muito diferente. E assim, estamos observando o crescimento do Brasil, não o seu desenvolvimento. Minas, falo com muita tristeza, é o sinônimo do atraso econômico, onde nada se cria, nem se transforma. A começar por nossos minérios que são enviados para fora, in natura, sem nada por eles recebermos. Salvo a poeira e a poluição por sua extração.

Os conservadores, por tudo isso, odeiam os liberais, os democratas. Alguns nos chamam de inconsequentes pelo simples fato de sermos livres para desafiá-los, mas, sobretudo, por termos a liberdade de expor as contradições políticas e o subdesenvolvimento que nos legaram e ainda persistem em defender.

Mas ainda acredito que a única forma de mudar para avançar, é continuarmos a denunciar a incoerência, e a corrupção praticada pelos conservadores. É o que vou fazer. É o que vou continuar fazendo. Independentemente de votos. Independentemente de eleição, pois quem vive da politica são eles. Os liberais, como eu, só precisam da liberdade. Eu a tenho.