A gripe que nos ronda

Da mesma forma como pessoas e populações não devem se deixar levar facilmente pelos alarmes, que são capazes de causar grandes prejuízos coletivos, não é aconselhável que se influenciem pelo descuido total, quando veem as evidências de que estamos diante de perigos iminentes. Lembrei-me de falar sobre isso, quando, no fim de semana, deu-se a conhecer a advertência de especialistas de que uma pandemia bate à porta do mundo, soprando os ventos da gripe suína. Repito: se não há motivo para alarme, porque hoje a ciência nos oferece recursos que não haviam nos tempos das grandes pestes, nem por isso os governos têm direito de achar que vão combater o mal com meias medidas ou total desprezo, como se observa em muitos países.

Ainda no fim de semana, entre outras leituras sobre essa gripe, deparo com a preocupação de um grande especialista no assunto, Patrick Lagadec, de Paris, de onde não precisou sair para que o mundo o festejasse como autoridade em crises de risco. Quem o lê, percebe que ele não se exclui dos que temem o progresso e as consequências dessa suína indesejável. Chega a ponto de recomendar que países que exercem liderança, ou que tenham se transformado em principais vítimas da gripe, como Estados Unidos e México, adotem, em conjunto, medidas de prevenção sanitária. Lagadec vai além, e acha que soou a hora de serem eliminadas todas as formas de propagação do vírus. Grandes aglomerados, como eventos esportivos, devem ser desestimulados o quanto antes. Se chegarmos a esse ponto, imagine-se a frustração que seria provocada com o cancelamento de jogos da Copa do Mundo...

No Brasil, onde o governo não dá sinais de se preocupar com a pandemia anunciada, o Ministério da Saúde divulga boletins diários de controle da doença, animando-se diante do fato de termos apenas meia centena de casos suspeitos e mais de 400 descartados. Seja como for, todos são importados, nenhum autóctone.Um alívio. Mas não tanto. É importante que, sem que se desautorizem as iniciativas já tomadas ou em curso, outras sejam adotadas, agora com maior participação pupular. É preciso mostrar a cada brasileiro o que ele deve e pode fazer, em benefício da coletividade. Essa gripe, que começou meio misteriosa, como vírus A (H1N1), e depois se popularizou como suína, não veio para brincar.