Senado na berlinda

O País está aí consumindo duas semanas de dedicação quase exclusiva à crise moral que se abateu sobre o Senado, ao mesmo tempo em que corre de Norte a Sul a campanha para levar seu presidente ao cadafalso, onde se promoveria o enforcamento sumário. Em grande parte, ficamos discutindo o acessório, isto é, se a culpa é de Sarney e dos sarneystas, ou se todo o Senado é pecador, quando, na verdade, ninguém ali escapa inocente. Seja por ação, por omissão ou lá o que se alegue, fato é que aquela é uma casa em que todos têm sua responsabilidade, porque se nem todos prevaricaram, não restou um único que não se aproveitasse de mordomias e favores irregulares.

Mas ainda não é aí a questão que desejo ferir nestas poucas linhas em que a crise passa de passagem. O que se percebe facilmente é que as discussões e críticas em relação aos escândalos excluem, não sei se deliberadamente, o esforço para aumentar o conhecimento popular em relação ao Senado, suas atribuições e responsabilidades. O País sabe muito pouquíssimo sobre a Câmara Alta, o que leva muitos a imaginar que aquilo não passa de um clube de luxo para ociosos, ou, pior ainda, um domicílio da premiação de velhos políticos, o que, de certa forma, é verdadeiro.

Eu já me preocupava com isso, há três anos, quando disputei uma daquelas cadeiras, e uma grande parte dos mineiros entendeu minha pregação, pois, mesmo debaixo de poderosas adversidades políticas, fui ungido com meio milhão de votos.

Agora, com respaldo na atual crise, que traz decepções, mas também lições, acho que as lideranças sobreviventes de Minas têm o dever de promover campanha didática sobre Senado, para o que serve, qual seu papel na unidade federativa, quem deve fazer parte dele. Os brasileiros precisam respeitá-lo para constituí-lo de mulheres e homens sérios. Só se acolhe bem o que se conhece muito.


O. P.