A GREVE DOS ÔNIBUS E A PREFEITURA

A população de Juiz de Fora está submetida, mais uma vez, ao sacrifício de conviver com as deficiências no setor de transporte coletivo, agora condenada ao sufoco da operação tartaruga, que é um desserviço aos usuários, irrita tanto a população como também os motoristas e cobradores, convocados pelo sindicato da classe a manterem os ônibus em marcha sonolenta.

Há uma expectativa de greve na próxima semana, o que certamente agravaria os problemas. Será o caos.

Eu vou aproveitar a oportunidade do momento crítico para dizer algumas coisas essenciais no que concerne a esse setor, que é vital para a população, muito mais para a faixa em que estão os trabalhadores. Quero dizer o que penso para a melhoria do serviço.

Primeiro ponto: é preciso abrir licitação para a exploração das linhas de ônibus em Juiz de Fora. Ninguém sabe a razão de a atual administração municipal, passados 14 meses desde que começou, não ter se disposto a publicar o edital licitatório. A desculpa de que o processo está em estudo é balela.

Essa demora é uma violência contra os interesses dos usuários. Repito: não há explicação que possa ser dada pela administração custódio, esta sim, muito mais que os ônibus, pratica a operação tartaruga. Portanto, sem licitação as coisas não vão melhorar.

É preciso – e aqui vou entrando no segundo aspecto que desejo abordar – que entre as exigências feitas às empresas concessionárias figure rigor no estado de conservação dos ônibus, inclusive a instalação de ar-condicionado em todos eles, como se observa, há muito, nas principais cidades brasileiras. Pergunto por que, aqui, esse conforto é privilégio que apenas algumas linhas oferecerem aos passageiros?

Não posso me negar também a uma palavra sobre os donos dessas empresas. O oligopólio do transporte coletivo no país é poderoso e depende do Estado para manter o negócio sem concorrência. Há uma enorme influência política sobre as prefeituras.

É sabido que entre as grandes fortunas brasileiras figuram os donos de ônibus urbanos. É uma observação que faço, com o cuidado de não generalizar. Porém, mesmo reconhecendo que entre eles há gente séria, é preciso dizer e denunciar que nesse caso todos os empresários fazem parte de monopólios; e geralmente os monopólios são altamente prejudiciais aos interesses de quem não tem poder; dos pobres, sobretudo. Monopólio é sempre mantido a custa de concessões e acordos, não raro também prejudiciais.

Tomemos o caso de Juiz de Fora. A troca de interesses é evidente nas relações entre empresas e o prefeito custódio mattos, em quem se pode apostar, para brevemente, o decreto de um novo aumento das tarifas.

Quando se trata do jogo de interesses referente ao serviço de transporte coletivo é preciso lembrar que isso vem dos tempos de Alberto Bejani , quando foi filmado recebendo sacola de dinheiro de dono de empresa de ônibus e, lamentavelmente, é um jogo que não se interrompeu na gestão do atual prefeito.

Ônibus bons, frota bem conservada, planilhas tarifárias condizentes com o nível de ganho da população são pontos capitais a serem observados. Mas, em Juiz de Fora, isso começa pela licitação. Em que gavetas da prefeitura, escondidos sob que interesses, andam os estudos para isso?