Missão impossível

Os deputados e senadores estão encurralados pela opinião pública, que, mergulhada na mais profunda perplexidade, vem cobrando deles o fim da corrupção deslavada e da irresponsabilidade na guarda dos interesses nacionais. O caso das passagens aéreas, por exemplo. Mordomia de um atrevimento desmedido, intolerável, até pelo fato de servirem não apenas aos parlamentares, mas também a parentes e apadrinhados.

Uma proposta reparadora vai ser votada em plenário, mas eu me pergunto como esperar que por iniciativa própria eles ponham fim a essa irregularidade? Se foi o Congresso que a criou, não haveria de ser por essa mesma via que o mal fosse corrigido. Isso só ocorreria se o povo fosse para as ruas, rompesse seu desencanto com os políticos e exigisse moralidade.

Não há como esperar êxito nessa tarefa, se confiada a deputados e senadores, até porque estamos tratando de corrupção política, que tem como primeiros agentes 33% dos membros do Congresso Nacional, segundo dados confirmados pelo Movimento Tiradentes, que vem lutando para que se retome o mínimo de dignidade e compostura nas atividades públicas.

A mais séria conclusão a que se chega, além de todas as razões para deplorar quadro tão sombrio, é que com esse percentual de comprometimento esgotam-se todas as possibilidades de se elaborar uma legislação apropriadamente rigorosa para julgar e condenar quem trair a confiança do eleitor. Como haveríamos de esperar do Congresso ações objetivas se elas vão de encontro aos interesses de uma terça parte das bancadas legislativas? Como convencê-la de votar contra seus próprios privilégios?

Se é no Congresso que as leis são elaboradas, mas se sabemos que é exatamente ali que se encontram os que mais reagirão a elas, vê-se que está criado o impasse. Restaria o caminho do Judiciário. Mas como?, se também ali vêm ocorrendo horrores. Estamos sem saída. Aliás, só uma saída: valorizar o voto nos nossos próximos representantes.