Áquila e nós outros

Nesta Sexta-Feira da Paixão estou desembarcando na Itália, numa hora em que à tristeza natural de um dia doloroso para a Cristandade somam-se as dores provocadas pelos recentes terremotos, que acabam de deixar um rastro de destruição e morte. Tenho razões e amigos na Itália para querer dividir com eles a angústia destas horas que abalam o espírito de um povo tradicionalmente alegre e hospitaleiro.

Um tremor que ocorre em solo italiano é motivo de dupla tristeza, porque além das muitas vidas que se perdem, perde a Humanidade parte de suas relíquias arquitetônicas, como ainda agora em Áquila, onde prédios históricos nem poderão preservar as novas ruínas, em tal estado que é preciso completar a obra da destruição. Lá se vão novos pedaços da civilização humana. O que é muito triste.

Quando se olha a paisagem da devastação, em Áquila e em qualquer outra parte do mundo onde o gênio humano construiu e preservou, forçoso é admitir um grave contraste: sendo imensa nossa capacidade de realizar sobre a terra e no espaço sideral, não conseguimos conter a fúria sob nossos pés, quando o solo treme. Nem mesmo detectá-la em tempo suficiente para salvar vidas e o patrimônio histórico. Sabemos muito, e ao mesmo tempo sabemos pouco.

Abençoado por Deus, que o livrou dos terremotos, o Brasil tem sentido nos últimos trinta anos, com certa frequência, abalos isolados, como em março de 2005 no Amazonas e, em Minas, o que destruiu, em dezembro de 2007, o povoado rural de Caraíbas, causando a morte de uma criança. Pois hoje, do outro lado do Atlântico, diante do cenário da destruição e onde paira no ar o temor da possibilidade de novas tragédias, é que penso na necessidade de o mundo (inclusive o nosso Brasil) investir mais no estudo e nas pesquisas das placas tectônicas. Se podemos tanto, se nossos engenhos pousam em outros planetas, distantes milhões de quilômetros, por que não tentar conter ou amenizar a fúria que vem de alguns metros abaixo do chão?
O.P.