Justiça contra violência

No dia em que a Cristandade comemora sua data mais importante, mesmo estando longe do Brasil, escrevo para registrar que a Campanha da Fraternidade, acoplada à Semana Santa, deixou para a comunidade brasileira uma advertência que, absorvida neste domingo, é bom que faça parte da vida diária de todos nós. Falo dessa preocupação em saber e denunciar que será em vão procurar o fim da violência, se não passarmos pela justiça. É preciso compreender que a sucessão das injustiças gera ambinte propício à violência, e penso que tantar buscar explicações fora desse raciocínio é perda de tempo.

O período da Quaresma, que hoje se encerra, ao deixar esse ensinamento como tema de reflexão, concentrou-se na valorização da vida, uma proposta de contraste e de contestação à crescente cultura da morte. Não menos importante foi a oportunidade que se abriu à reflexão sobre os motivos que diariamente levam milhares de pessoas a ter interrompida a vida, por nada.

Não basta lamentar as tragédias urbanas, que todos os dias se abatem sobre centenas de brasileiros, mas é preciso despertar para o desafio coletivo de identificar e enfrentar aquela grande causa dos males gerados pela violência, que, principalmente nos grandes centros, vai cumprindo seu capricho sinistro de matar pessoas inocentes, das quais se tem confiscado até mesmo o direito de andar nas ruas com segurança.


A Igreja aproveitou a Quaresma e a Campanha da Fraternidade para denunciar os crimes das injustiças, a mais recente das quais é essa crise financeira internacional, que prima por jogar nas costas dos pobres, dos desempregados e desassistidos o peso dos poderosos contrariados em seus interesses. E vai nisso o flagelo de novos milhares, se não milhões, de condenados a morrer pela inanição, pelos cuidados que não foram possíveis e pela marginalização.

A cultura da morte é filha dileta da violência descontrolada, que já não se dá mais ao trabalho de eleger vítimas preferencias, porque lança no ar as balas perdidas, mata anônimos e faz paraplégicos, preferencialmente crianças. Outras vezes, ela não elimina de imediato, pois prefere a longa agonia dos famintos e dos desassitidos nas filas dos hospitais públicos.

No domingo em que a comunidade cristã encerra a Campanha da Freternidade, com seu sentido apelo à vida, aproveito este espaço para reafirmar a esperança em melhores tempos, até porque a Páscoa é festa de passagem, de transformação.

O.P.