Misteriosa reforma

Estive lendo, para tentar saber a quantas anda nossa tão falada reforma política, que, se me perdoam a ironia, torna-se mais sumida na medida em que vira assunto das nossas lideranças políticas. Quando mais se fala, mais ela se esconde. Estou na Europa há 17 dias, mas ainda no Brasil preocupei-me em obter informações, nem sempre bem sucedido. Aqui, pesquiso, com os recursos eletrônicos disponíveis, mas as notícias continuam escassas, a não ser que vários dos projetos que compõem tal reforma tramitam pelas comissões do Congresso. Os trabalhos de comissões a gente nunca sabe exatamente em que pé se encontram, o que se torna um fator a mais para confundir um tema já por si só confuso.

A propósito da reforma, estamos hoje situados diante do seguinte dilema: ou discutimos item por item, e com isto vencemos resistências sobre questões isoladas, como financiamento público das campanhas, ou tratamos da reforma no seu todo, para se dar ao País uma estrutura político-partidária realmente nova e moderna, sem os velhos vícios que tantos sacrifícios nos trazem. Qualquer que seja o caminho adotado haverá dificuldades.

A abordagem conjunta, ainda que desejável, concorreria para trazer novos atrasos para uma tarefa que já se faz atrasadíssima. Tratada por partes, corremos o risco de perder o ideal do conjunto, como ainda agora se viu no caso na fidelidade partidária, com princípios definidos pelo Judiciário, não pelo Legislativo, a quem caberia tratar de questões dessa natureza. E os textos que tenho lido em pouco contribuem para dirimir dúvidas.

Percorro os sites dos partidos, e também não encontro orientação para refletir sobre o assunto. E aí reside uma estranheza ainda maior. Por que – pergunto – quais outras instituições, além deles, deviam estar mais familiarizadas com uma reforma que, em primeiro lugar, lhes diz respeito?

Diante dessas dúvidas, que certamente não são minhas apenas, mas de todos que desejam um Brasil com instituições mais sólidas, penso que tão auspiciosa reforma só acontecerá quando o povo, nas ruas, nas fábricas, nos escritórios, a exigir. Fora disso, nada feito.