As praças estão vazias

Ideal seria que neste Primeiro de Maio a data fosse comemorada com festas e manifestações, nas quais os trabalhadores pudessem dizer o que estão pensando do País e do mundo em que vivem, mas, principalmente, quais suas expectativas. Bem ao contrário, o que se sente no ar é um silencioso temor pelos desdobramentos de uma crise financeira não criada no Brasil, muito menos pelos trabalhadores. Estes, não obstante, são os primeiros chamados a pagar o preço do caos. Bom que com tais preocupações, as classes mais sofridas estivessem mobilizadas, exceção apenas para com os servidores da prefeitura, vítimas de uma agressão a longo prazo: não terão reajuste neste ano. Mas, diferentemente, a data universal talvez se resuma a churrascos coletivos e aos pagodes, cujo mérito não vai além de alguns poucos minutos de relax. As festas são importantes, mas não deviam substituir nem anular o desejável debate sobre as questões momentosas. Ainda que todos mereçam o divertimento e a confraternização, é preciso que as diversas categorias do labor se empenhem mais na discussão dos temas que lhes dizem respeito e também as que afetam a população de modo geral.

Não é tranquilizador ver um dia tão significativo, consagrado em todo o mundo, passar sem acontecimentos marcantes, mas apenas tomando carona num feriadão.

Quando a gente se dedica ao estudo e à avaliação da crise da atualidade percebe que a discussão de soluções está restrita aos governos, banqueiros, ministros e financistas, mas sem espaço para o trabalhador. Sendo cidadão útil e receptáculo dos sacrifícios, ele devia estar na crista das grandes decisões do País e da cidade. Mas parece que a maioria dos sindicatos não se ocupa de avaliar a importância de seus filados na condução dos destinos da comunidade. Não reconhecem neles a grande força propulsora do desenvolvimento, embora seus dirigentes não se cansem de dizer isso nas campanhas para se perpetuarem nos cargos de diretoria, que rendem generosas mordomias.

Hoje, as praças e os auditórios deviam ser o centro de debates e propostas, e nisso incluem-se, além dos operários, os trabalhadores intelectuais, servidores públicos e profissionais liberais. O que essa gente obreira tem a dizer sobre o Brasil de hoje e o mundo de amanhã?










O.P.