Tudo como em novembro

De volta à Europa, após breve passagem pelos Estados Unidos, observo que não ocorreram mudanças importantes que pudessem alterar o que aqui observei em novembro do ano passado: a crise financeira, que já então se espalhava pelo mundo, ainda não sinaliza luz no fim do túnel, e os europeus sabem, tanto quanto nós, que o generoso socorro que os governos têm dado aos bancos não é suficiente para conter, muito menos debelar a crise.
No ano passado, depois de quatro semanas andando por capitais do Velho Mundo, escrevi aos meus leitores, dizendo que a situação estava se agravando e que certamente iríamos sentir dores agudas. Destes mesmos lugares, lamento dizer que em nada se alterou minha expectativa, porque a injeção de fabulosas quantias em dinheiro constitui remédio de efeito localizado: serve apenas para evitar que as instituições financeiras não espalhem ainda mais os prejuízos de produtores e investidores. Não são injeções produtivas. Aliás, resta uma expectativa, que, a bem pensar, é mais uma esperança que outra coisa qualquer. Trata-se da novidade: o presidente Obama. Mas até que ponto é justo esperar dele tanto em tão pouco tempo?
Acabo de ler que o presidente Lula, na sua proverbial capacidade de dizer com simplicidade as coisas mais graves do mundo, sentenciou que os países ricos criaram a crise; portanto, eles que cuidem de dissipá-la. O que é rigorosamente justo, embora distante do real, porque os ricos sabem como se desvencilhar e atirar sobre costados alheios as más coisas que costumam obrar. Infelizmente é assim; e, sendo assim, bom que nosso governo cuide de blindar a economia, para que soframos o mínimo possível.