segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A DEMOCRACIA ITALIANA

Tenho frenquentado muito a terra de meus antepassados. Meus "nonos" chegaram ao Brasil no final do século 19. Os chamo sempre de brava gente. Aqui chegaram sem dinheiro, sem nada. só trouxeram com eles a esperança de felicidade no novo mundo. Ganharam um palmo de terra em Leopoldina e, dela viveram humildimente.


Deixaram a Itália por não haver trabalho. Praticamente não tinham o que comer. Milhões de italianos deixaram seu país em direção a todos os continentes. Boa parte para o Brasil, onde grande contigente foi enviado para a Zona da Mata Mineira para substituir, na lavoura de café, a mão de obra escrava, recém libertada. Meus avós faziam parte dessa mão de obra.


Quando observamos o catálogo de telefone das cidades da região, podemos constatar a importância da colonização italiana. São centenas, às vezes a maioira da população com nomes genuinamente italianos.


Passado mais de um século, depois de duas guerrras mundiais, a Itália, a querida Itália, é a sexta economia mundial. Além das guerras em que participou como importante protagonista, o país mais importante da cultura latina, também sempre atravessou graves problemas políticos internos, como por exemplo, nos anos 70, as ações terroristtas lideradas pelo grupo "Brigadas Vermelhas, chefiado por Battisti, preso no Brasil, e que Lula terá de decidir o que fazer, ou seja, se o manda de volta para ser julgado na Itália.


Nem assim, o país deixou de cumprir seu destino de grande Nação, muito menos deixou de alcançar o status de país rico e industrializado. Hoje, em uma sociedade estratificada, o Italiano parece exausto e estressado por ter alcancado tamanho padrão de vida.


A Itália é um país socialista de economia capitalista. Isso existe. Aqui, as diferenças sociais são praticamente inexistentes. Os níveis salariais são muito próximos, não importando a formção: um garçom de restaurante ganha 1,5 Euros. O funcionário público médio, o policial e a professora, basicamente a mesma coisa, ou seja, entre 2 a 2,5 mil Euros. Assim como um engenheiro ganha um pouco masi 3,o mil. Não mais que isso.


Resultado: é um pais onde não existe miséria. Um pouco de pobreza. Fizeram, depois de séculos de "conflitos" políticos , uma sociedade mais justa e equilibrada. Toda criança, sem exceção estuda em uma boa escola pública. Aqui, praticamente não existe escola particular. É obrigação do Estado prover educação (de ótima qualidade) para todos.

Já a partir de 2011, nenhuma criança irá aprender pelos livros , e sim por um computador (laptop) que o Estado entregará a todos os alunos. A partir daí, a aula de geografia, por exemplo, poderá ser realizada "in loco". Por exemplo, vamos conhecer Brasília, capital do Brasil Ligados os computadores, todas as crianças farão um passeio virtual pela cidade ! Isso é a Itália, a Itália que impressiona, tanto ou mais que a paixão nacional, a Ferrari !


O país está "pronto, feito". A economia está madura, e não falta nada a ninguém. Não há mais nada para ser feito ou construído. As instituições estão maduras. O sistema econômico ídem.


A riqueza de um país pode ser medida nos períodos de férias: se o operário da Fiat, o servidor público mais simples, ou o empresário importante, não compraram seus pacotes de viagem com seis meses de antecedência, a família, pode esquecer, vai ficar sem viajar, pois não vai conseguir lugar. Tudo foi vendido para todos os lugares do mundo ! São quase 50 mihões de Italianos se deslocando pelo mundo.



Mas então não estamos em um país, e sim no paraíso , na sociedade ideal ? Obvio que não. A Itália tem enormes problemas. Longe de se comparar com os nossos. Longe de comparar com a miséria, a violência , e o feudalismo político que ainda existem no Brasil , e que tanto nos envergonha. Não, os problemas da Itália ainda são desafiadores. Mas bem menores que os nossos.


A começar pela burocracia que faz a vida do simples cidadão italiano muitas vezes virar um inferno , perdendo-se, por exemplo, horas e horas na fila de uma repartição pública para resolver um problema, que no Brasil , resolveríamos em minutos: uma transferência bancária que necessita o preenchimento de diversos documentos, ou uma simples carta enviada que pode demorar semanas para chegar ao destino.


Mas grave mesmo por aqui , acreditem, é tambem saúde pública. É de qualidade, sem dúvida, mas que não consegue atender a demanda. Ninguém morre na fila de um hospital na Itália , ou muito menos o corredor de um posto de saúde é transformado em quarto pós cirúrgico, mas se não tiver pistolão, sua cirurgia pode demorar meses. Isso mesmo que você leu: PISTOLÃO.

Nem todos italianos possuem seguro de saúde privado, portanto, são obrigados a utilizar o serviço público de saúde. Nesse momento começa o transtorno, isso é, ser atendido , obrigando-o a entrar em uma fila que pode deixar ( e deixa) o cidadão meses esperando por uma simples consulta. Nesse momento, entra a "malandragem latina", ou seja, o "pistolão" . Incrível, mas é verdade. Funciona aqui, como aí. Igualzinho.



Mas o que mais me assusta na sociedade desse maravilhoso pais, é que o Estado, as instituições da democracia italiana desconfiam do cidadão o tempo inteiro , e por isso, fiscaliza tudo o tempo todo, e todo mundo.



Não conheci país que fiscalize mais os cidadãos e suas empresas. Exemplo: na Itália não existe a função de Fiscal da Receita Federal, como existe em todos os países democráticos do mundo (EUA, França, Alemanha, Brasil etc.). Na Itália, fiscal de impostos é POLÍCIA FISCAL. Literalmente! Os fiscais aqui são policiais uniformizados, armados e que entram em seu negócio sem pedir licença. Inacreditavelmente verdadeiro. Você a vê por toda a parte, como se vê a polícia civil. Incrível.

Eu mesmo, outro dia estava com amigos na porta de um restaurante , esperando vagar uma mesa para jantar, quando fomos abordados por dois cidadãos à paisana que se identificaram : polícia fiscal ! Nos pediram a nota fiscal. Dissemos que ainda não tinhamos jantado. Pediram desculpa. E ficaram do lado de fora. Acredito que devam ter pedido nota para todos que saíam. E por aí vai. Eu não gostaria de morar em um país policial assim.



O resultado é que os italianos são tidos como possuidores das maiores fortunas do mundo: na Suíça... Berlusconni está propondo uma anistia fiscal para fazer com que bihões de dólares depositados por italianos no exterior,voltem para o país.

Desse Estado policial nasce o consequente "stress" que vive a população, que se por um lado não consegue uma consulta médica na hora, paga os impostos mais altos da Europa: 50% de tudo o que ganha um cidadão ! Não estou falando de empresários ricos. Me refiro ao simples cidadão.

Aqui, se trabalha a vida toda para pagar férias e ter uma casa. O resto vai para o governo que..., deixa o cidadão na fila esperando por uma consulta médica. Por outro lado, não muito diferente do Brasil, toda hora estoura uma notícia de corrupção praticada por políticos. Até o Vaticano já esteve envolvido há cerca de 15 anos atrás em um grande escândalo de corrupção. O padre responsável pelas finanças do Vaticano, aplicou de forma irresponsável as finanças da Igreja , levando a falência o Banco Ambrosiano, cujo Presidente foi encontrado enforcado...


Ontem fui jantar na casa de um Professor Universitário em Roma. Ele me disse que a Universidade pública italiana está cada vez pior, e o seu sonho é se aposentar o mais rápido possível para abrir um restaurante no Rio, onde será o chefe (sério). Perguntei porque.
Resposta: "o funcionário da Universidade, sobretudo professores, fazem o que querem. Chegam a hora que querem. Fingem que dão aula e os alunos fingem que aprendem. Um desastre ! Não aguento mais conviver com isso, e os sindicatos, sem ter representavidade mandam no Estado, fazendo greves inconsequentes .

Quem paga a conta dessas pessoas que só querem direitos , mas tem horror que sejam cobrados por suas obrigações? Nós, o povo. Estou cansado dessa gente e de tudo isso. Por isso, quero parar, quero ir embora da Italia
", concluiu !


Isso nos faz lembrar algo em Juiz de Fora ...

Eu vivi oito anos fora do Brasil. Estudando e trabalhando. Sou um apaixonado por meu país. Tanto que não quis ficar nos Estados Unidos, onde tinha residência, ou seja, tinha os mesmos direitos de um americano. Só não podia votar. Queria viver no Brasil, ajudar a minha pátria a ser melhor do que é. Por isso, voltei.

Mas quando se passa muito tempo fora, a gente também se acostuma com as coisas boas do país onde você viveu, sobretudo a igualdade de oportunidades, a inexistência de miséria, o respeito às leis e instituições, enfim , a uma democracia mais efetiva. Por isso, todo brasileiro que morou fora, em geral sente falta também de onde viveu, do país onde pôde conviver e aprender valores importantes.

E ninguém melhor que o saudoso Tom Jobim para definir esse sentimento de amar o Brasil e, ao mesmo tempo, também gostar de viver em países de democracias mais maduras. Por questões profissionais, Tom Jobim vivia em Nova Iorque, onde tinha apartamento. Um dia um repórter perguntou a ele:

Tom, como é viver em Nova Iorque?

Resposta do Maestro : "VIVER EM NOVA IORQUE É MUITO BOM , MAS É UMA MERDA" !

E como é viver no Rio de Janeiro ?

Resposta do Maestro : "VIVER NO RIO DE JANEIRO É UMA MERDA, MAS É MUITO BOM" !



Eu estou morrendo de saudades do meu Brasil, do meu Rio e de Juiz de Fora. Chego essa semana.

8 comentários:

Anônimo disse...

Quando comecei a ler, pensei até que fosse um adeus definitivo para o Brasil, mas enfim, sua linda redação, finaliza dizendo de saudade. Essa palavra somente é grifada não sua consesualidade no Brasil.
O que esperamos é que você não desista do seu país, mesmo sendo às vezes uma merda ter que conviver com a miséria que desfila a nossa frente, a corrupção deslavada, mas em alguns momentos passada a limpo pelo próprio cidadão e pela Lei. Volte! Porque nós amamos você!

das abelhas... disse...

Muito fofo a história de seus "nonos", a história de quase todos os brasileiros, tem um pé na Europa. Portugal, Itália, Espanha, França, Inglaterra e até Holanda. Tem famílias que a misigenação é complexa.
Uma coisa é certa o povo italiano, trabalhou muito no Brasil, foram muito corajosos, e venceram. Toda nossa gente tem histórias para contar. Uns também tem vínculo forte com a África.
O nome Omar também remete aos povos Árabes, mas quase na antiguidade, os povos migravam muito por causas das guerras. Temos os Mouros, os Turcos, os Árabes que foram invadindo a europa, que na ocasião era mapeada bem diferente de hoje.
Adoro genealogia, é muito bom saber dos nossos antepassados e dar o devido valor a eles. Somos frutos dos nossos precedentes, e nossa alma tem esses traços também.
Não perca o avião, não desmarque a passagem. Que tal rever os amigos brasileiros, e que tal começar a viabilizar sua candidatura em 2010?

Anônimo disse...

Sobre as Universidades é semelhante ao Brasil.

No Brasil temos a grande perda com os sistemas de cotas. Os alunos cotistas são de baixissimo nivel e não concluem os cursos e/ou exigem que a universidade piore o nivel do ensino.

O mundo socialista é uma farsa e viva o Capitalismo. NÃO EXISTE ATÉ O MOMENTO ALGO MELHOR, PRINCIPALMENTE EM PAISES COM JUSTIÇA SÉRIA E VERDADEIRAS DEMOCRACIAS.

Anônimo disse...

Sei, Itália vanguardista????
Riqueza não tem a ver com vanguarda.
Até mesmo porque o Berlusconi é muito amigo do Bejani e do Custódio.
Todos com o mesmo lema de vida.
Farinha pouca ( mesmo que no caso de muita!) meu pirão primeiro!

Anônimo disse...

Já que você ainda está em Roma vê se consegue fazer chegar ao governo italiano o caos que virou a Casa D`Italia, em Juiz de Fora: um verdadeiro mafuá,. tem até salão de beleza lá dentro, salas que antes eram de aulas viraram lojas, o teatro está em ruínas, a fachada um lixo, cheia de cartazes, nada a ver. Aquele prédio deveria ser um grande centro de cultura italiana, algo que orgulhasse a todos nós descendentes de italianos. E ainda tem a questão da bandeira brasileira que não é hasteada junto com a da Itália e da Comunidade Européia. Omar, se não conseguirmos nada antes de você ser prefeito de Juiz de Fora, contamos com você para ajudar desde agora a devolver à cidade e ao país este belíssimo patrimônio que é a nossa Casa D´Italia! Sugiro uma série de reportagens no JF Hoje e na Panorama. Quem sabe o Itamar (um Cautiero e filho da D. Itália não se anima a entrar na campanha?)

Anônimo disse...

Bom lembrar que o Itamar foi também embaixador brasileiro na Itália, tudo a ver, apoio a idéia do anônimo sobre a Casa D´Itália

estamos com você disse...

Na Itália é assim, 50% dos investimentos financeiros é do Estado. Não vale apena investir, aí Omar. Você trabolhou muito para conquistar tudo na vida, e lembre-se você tem suas meninas, e deve cuidar delas, como bom pai, e bom administrador.
Então volte para o Brasil, mesmo os impostos sendo altos aqui, é melhor o seu país.

As abelhas... disse...

Estamos aguardando sua chegada!
Só em saber que vc está aqui conosco, já nos deixa muito felizes!
Que tal nos chamar para uma confraternização de final de ano, coisa simple, nada de ostentação, coisa de amizade, de coração, de cumplicidade!